terça-feira, 4 de março de 2014

Vidas ao Vento: Le Vent se Lève

Aviões são como belos sonhos




'Le vent se lève, il faut tenter de livre'

A obra marca não somente pela história que conta, mas por ter gerado polêmicas e ao invés de responder as críticas, Miyazaki anunciou que infelizmente, ele deve se aposentar (de vez).


Este filme não é somente uma cinebiografia de Jiro Horikoshi - como muitos afirmam -, como também é uma dedicatória à Tatsuo Hori. O primeiro foi um visionário designer de aviões e criou o Zero (Mitsubishi A6M Zero), a maior surpresa do ataque japonês a Pearl Harbor em 1941 que posteriormente se tornaram os kamikazes. O segundo era um tradutor do francês que escreveu um livro narrando a agonia de sua amada, vítima de tuberculose crônica. O título da obra "The Wind Rises" provém de uma novel de mesmo nome, escrito por Tatsuo Hori.

Vidas ao Vento (Le Vent se Lève no original e Kaze Tachinu no japonês) é na verdade uma junção de ambos em um único personagem - a paixão por aviões de Jiro e o romance com uma portadora de tuberculose de Tatsuo -, criando um único Jiro Horikoshi, aquele que foi tanto criticado por historiadores e amado por telespectadores, sendo inclusive indicado ao Oscar de Melhor Animação, o prêmio máximo do cinema - que infelizmente não levou a estatueta, Miyazaki terá que se contentar somente com a de A Viagem de Chihiro -.


Há certa influência da vida de Hayao Miyazaki no filme, sendo ele filho do diretor de uma empresa que fabricava lemes de aviões, de onde veio sua paixão por aviões explorada tão amplamente aqui e de sua mãe ter sido hospitalizada durante boa parte de sua infância devido à tuberculose - fato citado claramente em Meu Vizinho Totoro -.

O filme, como outros tantos produzidos pelo Estúdio Ghibli e dirigido por Miyazaki pode ser visto como confuso para alguns, devido a sua mesclagem entre o real e o imaginário, neste caso o mundo dos sonhos. O mundo de sonhos de Jiro nesta obra se funde com o sonho do engenheiro aeronáutico Giovanni Battista Caproni, este queria que seus aviões levassem passageiros ao invés de bombas. Aliás, foi Caproni que inspira Jiro a correr atrás de seu sonho: ser designer de avião, mesmo que este sonho venha a ser utilizado para a guerra.


A trilha sonora é bastante expressiva e impressiona ainda mais por se utilizar de sons criados à partir da voz humana, como um interesse particular do diretor nos primeiros estágios de produção. Foram utilizados os mais variados sons, que deram vidas aos aviões, locomotivas e até para o Grande Terremoto de Kanto. Difícil não se impressionar com a profundidade que isso traz para a obra como um todo.

Referências históricas é o que não faltam na obra, como o avião Zero e a Segunda Guerra Mundial, além do famoso Terremoto da Kanto, que aconteceu no dia 1 de setembro de 1923, na ilha de Honshu, deixando bastante destruição no que fontes indicam ter sido extremamente longo, durando de 4 a 10 minutos e da posterior re-construção do local, modernizando o Japão, que consequentemente ainda estava atrasado com relação ao resto do mundo. Outra citação histórica é à cerca do sanatório que Naoko vai afim de curar da tuberculose, que faz uma referência direta à Montanha Mágica de Thomas Mann. A mescla do moderno e do antigo, junto com a tensão da guerra próxima nos acompanha durante todo o filme num grande melodrama.


Além disso, houve várias polêmicas envolvendo o filme durante seu lançamento em 2013. Historiadores criticaram a invenção de uma esposa para Jiro - que não existiu na realidade -, detratores na China e Coreia do Sul acusaram Miyazaki de fazer um filme de guerra, enquanto este a criticou abertamente em seu filme, vista como uma conspiração a favor da militarização do Japão, que após o final da Segunda Guerra Mundial só pode contar com as Forças de Defesa.

Infelizmente, o filme teve sua estreia em solo brasileiro em poucos cinemas de algumas cidades brasileiras, restringindo assim o alcance a poucas pessoas. Rio de Janeiro, Fortaleza e São Paulo foram os lugares que receberam cópias - todas legendadas - do filme. Cópias dubladas ficaram sendo exclusivamente do mercado de vídeo a ser lançado em breve.


Aliás, a dublagem em original merece um curto comentário: Hideaki Anno, o cabeça por detrás do anime de Neon Genesis Evangelion é responsável por dar vida (voz) ao protagonista Jiro Horikoshi, que coincidentemente também é o responsável pela cena clímax de outra produção de Miyazaki, Nausicaä no Vale do Vento (Nausicaä of the Valley of the Wind”).

Vidas ao Vento é o que o título sugere. O vento foi o responsável por aproximar o casal, no trem e mais tarde, de reaproximar enquanto Naoko fazia uma pintura. O vento é também o responsável por seus sonhos, pelo sonho de ver um avião seu voando. É afinal, toda a essência do filme. Uma obra prima de Miyazaki, que será lembrada como sua última.

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7 comentários:

  1. Não conhecia o filme, mas achei bem interessante a ideia dos tributos aos dois japoneses. Nunca assistir nada desse estúdio. Procurarei assistir.

    M&N | Desbrava(dores) de livros

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  2. Poxa, eu não vejo a hora de ver e mesmo não tenho visto torcia muito pra ele no Oscar, mas não é fácil ganhar da Disney.

    Achei super interessante você falar um pouco de Tatsuo Hori na resenha, eu realmente não conheço muito sobre ele!

    Bjs

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  3. Eu confesso que sai com os olhos marejados, amei este filme, e merecia o Oscar de melhor animação, mas com o colegiado americano, e a pressão foi complicado, até porque tem as questões da guerra como você mesma disse.

    O grande Miyazaki pode se aposentar com honra, só temos a agradecer.

    Parabéns por mais uma resenha, adorei Naty.

    Abraços

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  4. Acabei de assistir na cinema... Realmente esse filme merecia Oscar!

    Chorei em varias partes da cena do filme, é sensassional!!!

    Kiss

    tsuki-no-shita.blogspot.com

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  5. Postagem muito boa, Naty.

    Vidas ao Vento é realmente um filme incrível.
    Uma reafirmação da Animação como um meio poderoso para contar qualquer tipo de história e ainda acrescentar uma riqueza visual e dramática que são próprias apenas de filmes animados.

    Sobre o Oscar: é quase impossível comparar Frozen e Vidas ao Vento. "Apples and oranges", como diz a expressão americana. Embora seja exatamente isto que uma competição faça.
    São filmes notáveis por razões diferentes e ambos merecem o reconhecimento que cada um conquistou com suas próprias características.

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  6. Parabéns pelo seu texto. Muito detalhado. É um longa que eu queria assistir no cinema, uma pena que estreou em uma temporada tão curta.

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  7. Belo texto e bem informativo. Achei o filme incrível, considero um dos melhores que assisti, tudo na medida certa.

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